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Somente após a inditosa guerra com o Paraguai, a região sul da província de Mato Grosso chamou a atenção daqueles que pretendiam buscar terras devolutas para assentar suas posses e iniciar nova vida, além das fronteiras já exploradas no tempo do Império.
A chamada região de Vacaria foi uma das que recebeu os primeiros moradores, muitos deles combatentes e outros que atraídos pela notícia da fertilidade da região para cá vieram.
A região do Campo Grande, assim denominada pelo Visconde de Taunay em sua obra “Expedição de Matto Grosso” , fora palmilhada por aqueles que seguiam viagem em busca das sonhadas terras de Vacaria, sem nunca se interessarem por este pedaço de chão cuja planície se alongava por mais de 50 léguas, de acordo com o mesmo relato.
O sonho de JOZÉ ANTÔNIO PEREIRA não era outro...Almejava, em princípio, chegar a Vacaria para buscar terras que acolhessem sua família.
No entanto, sua viagem terminaria às margens de dois córregos, mais tarde denominados Prosa e Segredo, fincando ali os alicerces de um arraial que o destino fez transformar-se numa grande cidade.
Ao deixar MONTE ALEGRE das Minas Gerais, na manhã de 4 de março de 1872, acompanhado do filho Antônio Luiz Pereira e dos camaradas João e Manoel Ribeira e o guia Luiz Pinto, ex combatente e conhecedor das trilhas que levavam aos campos de Vacaria, Jozé Antônio poderia ser chamado, como tantos outros, de aventureiro, mas sua aventura tinha um objetivo.
Ao entardecer do dia 21 de junho de 1872, a pequena comitiva chegou à confluência dos córregos e ali resolveram fazer pousada. Ao amanhecer, Jozé Antônio Pereira, encantado com o panorama que se descortinava em sua volta, resolve dar por finda a viagem, resolvendo que ali seriam suas posses e o lugar serviria para abrigar toda a sua família.
Após construir o primeiro rancho e plantar a primeira roça, retorna a Monte Alegre, agora para buscar o restante da família e amigos que quisessem dividir com ele a descoberta de tão lindas paragens, embora distante das pretendidas terras de Vacaria.
Contrata o poconeano João Nepomuceno, que conhecera na sua vinda, nos arredores da fazenda Camapuã, e com ele deixa a guarda do seu rancho e sua roça.
Retorna somente três anos depois, numa comitiva com doze carros de boi, animais, sementes, e viveres para a longa viagem, porém um possível desentendimento com um dos seus genros faz com que o mesmo retorne para Monte Alegre, aqui chegando apenas 11 carros com 62 pessoas da família e alguns amigos atraídos pela aventura do mineiro, aqui chegando no dia 14 de agosto de 1875.
Para surpresa do fundador, encontra aqui uma outra família mineira que se destinava aos campos da Vacaria, tendo negociado com Nepomuceno a posse do lugar, sob promessa que se Jozé Antônio retornasse, devolveria a propriedade, recebendo do mesmo os valores pagos ao poconeano Nepomuceno.
Mas, Jozé Antônio acolhe de bom grado a transação, convidando Manoel Oliverio ( o comprador) para ficar com sua família e ali construírem um arraial.
Três anos depois (4 de março de 1878), inaugura-se a capela de Santo Antônio de Campo Grande, promessa do fundador ao iniciar sua viagem desde as Minas Gerais. O Padre Julião Urquia, pároco da Paróquia de Miranda, realiza os cinco primeiros e curiosos casamentos, unindo as famílias de Jozé Antônio Pereira e Manoel Oliverio (Manoel Vieira de Souza).
Casam-se Antônio Luiz Pereira (filho de Jozé Antônio) com Ana Luiza de Souza (filha de Oliverio),que viriam a ser meus avós, Joaquim Antônio Pereira (outro filho de Jozé antônio) , com Maria Helena de Jesus (tbm filha de Manoel Oliverio), e o próprio Manoel Olivério (Manoel Vieira de Souza- viúvo) , casa-se com Francisca Pereira de Oliveira (filha de Jozé Antônio Pereira). Casam-se na mesma ocasião os ex escravos de Manoel Oliverio, João e Vicência, além da união de Manoel Eustachio dos Santos e Emerenciana Rodrigues.
Divididas as terras, concentraram-se aqui os ranchos de moradia, atraindo sempre novos chegantes que eram acolhidos pelo fundador, recebendo sua parcela na nova Vila que se afigurava.
Daí pra frente, a história é mais conhecida...Toda ela, em sua mais perfeita realidade está retratada nos livros de Barsanulfo Pereira, Epaminondas Alves Pereira, Rosário Congro, Paulo Machado e outros que primam pela originalidade dos fatos, baseando-se em documentos e testemunhos orais do fundador e de seu filho Antônio Luiz, considerado Co-fundador da cidade por ter aqui chegado na primeira viagem com o pai.
Nas fotos abaixo, a certidão original do casamento de Antônio Luiz Pereira, emitida pela paróquia de Miranda em 1926 e certidões expedidas pela mesma paróquia (já, Diocese de Jardim) em 1896 com base no livro de assentamento de matrimônios , a pedido da Fundação Eduardo Contar, que detém toda a documentação histórica dos primórdios de nossa cidade.
A grafia do nome do fundador com “Z” , feita propositalmente para justificar a forma como aparece em documentos da época, alguns deles no primeiro livro cartorial, hoje arquivado no Cartório de Registro Civil do 2º Ofício.
Autor: Eddson Carlos Contar (Bisneto de Jozé Antônio Pereira e neto de Antônio Luiz)
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